segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Entre Utopia e Mamonas Assassinas, porque nós precisávamos deles


É fácil falar de "Mamonas Assassinas". A banda paulista de um disco só tomou de assalto o cenário musical brasileiro nos anos de 95 e 96. Influentes e corajosos, ousaram enfrentar a tríade axé-pagode-sertanejo com bravura e letras irônicas. Ainda que haja boa vontade generalizada em transformar letras rasas em peças filosóficas e relembrar o carismático Dinho como um bom vocalista, o Mamonas Assassinas ficará sempre marcado mais pela quebra de paradigmas do que pela qualidade musical (prova disso são as raríssimas regravações de músicas da banda).

Antes do sucesso estrondoso do álbum homônimo lançado em junho de 95 houve o fracasso retumbante de "A Fórmula do Fracasso", quando a banda ainda se chamava "Utopia". Qual o motivo para um ser tão bem sucedido e outro tão desconhecido do grande público. Seria a numerologia? Seria o abraço total ao rock cômico (que, surpreenda-se com isso, começou com o antológico Falcão)? Ou talvez o nome novo fosse mais "comercial"? Suspeito que nenhuma das alternativas; a chave para entender o fracasso da Utopia e o sucesso dos Mamonas são três anos.

Saindo da turbulência das Diretas Já!, da redemocratização e enfrentando um traumático processo de impedimento do Presidente, o Brasil ainda respirava incertezas. O balanço entre o sério e o cômico do disco, as letras mal resolvidas e a situação econômica precária jogaram o disco da Utopia para os porões do insucesso. Três anos depois, a situação era outra.

Já tínhamos o Plano Real, um novo Presidente eleito e perspectivas  de mudança. Era a hora do sossego, do respiro, era a hora de extravasar. Não cabiam mais os rocks soturnos de Renato e sua galera, não era o momento de embarcar em outra invasão britânica (apesar do espetacular "Nobody Else", do Take That e da obra-prima do Oasis em outubro). Não. 1995 era o ano em que os brasileiros escolheriam rir de si mesmos, adiar (por alguns anos) o início da avalanche politicamente correta e abraçar os Mamonas como válvula de escape das pressões dos últimos dez anos.

Se era bom? Pra época, desejos e necessidades de toda a população sim. Foi, acima de tudo, um disco e uma banda necessária para o Brasil. Muito mais necessária do que boa, é importante dizer.
Se fariam sucesso hoje, se não tivessem encontrado o trágico destino em março de 1996? Costumo opinar que não, embora respeite quem diz que sim, já que pareciam aptos a se reinventar. É um prazeroso exercício imaginar como os Mamonas encarariam a internet, as redes sociais e a geração Z. O inconsciente coletivo da época transmitirá, por gerações, a história dos Mamonas Assassinas, o furacão de oito meses. 
E é bom que continue assim.


domingo, 27 de dezembro de 2015

Analisando Johnny Hooker - Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito (2015)




Amor. Ódio. Traição. Libido e paixão.  São alguns desses sentimentos que o álbum “Eu Vou Fazer Uma Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!” nos apresenta em suas 11 faixas (a última é uma versão em espanhol de ‘Alma Sebosa’).

Johnny Hooker é interprete e letrista desse que é um dos álbuns mais impactantes que tive o prazer de ouvir esse ano, e é impossível não simpatizar e colocar-se como protagonista de alguma das suas canções, repletas de poesia e sensibilidade.

Inicia com a faixa homônima ao álbum, sendo notável já nos primeiros versos a dor de um término de relacionamento desgastante, ‘Talvez algum dia eu te encontre por ai, pra me desenganar, pra me fazer sorrir’. Através da sonoridade pendendo ao brega há o arrependimento desse término, a recaída em “Volta”, submetendo-se até mesmo a perdoar os erros de quem se foi, reprimindo-se mais uma vez.

‘Acha que sua indiferença vai acabar comigo?’. É o questionamento na faixa seguinte, “Alma Sebosa”. Ao perceber que o ser amado não pretende retornar o protagonista está se fortalecendo, constata após a dor que não precisa desse outro pra seguir em frente. “Chega de Lágrimas” é mais agitada, representa a força interior e a vontade ser feliz e seguir, deixar o passado para trás, apesar de ainda sentirmos a angústia nas palavras de ódio do refrão.

O álbum segue com “Amor Marginal”, a faixa mais poética do álbum, poesia essa transportada ao vídeo clipe lançado em setembro desse ano. Aqui transparece a necessidade do amor carnal, do sexo e cumplicidade, lembranças que ficaram presentes na memória do protagonista.

Com o samba de gafieira de “Segunda Chance” Hooker coloca o protagonista na fossa da esperança de um retorno nesse relacionamento já desgastado. Apesar da percepção que sua vida está tomando rumos melhores ainda há esperança numa segunda chance. “Boyzinho” é a transformação, a mudança física, o desprendimento da vida que estava levando à sombra de um relacionamento sem volta.

Johnny Hooker 

“Boato” nos é apresentada através do ritmo descontraído do axé, descortinando toda a transformação do protagonista, quase completa. Está curtindo a vida, percebeu que o ser amado se foi, não há retorno e que o sentimento que permaneceu é simples, verdadeiro e somente isso. Não há mais motivo para sofrer. “Você ainda pensa?” é a última fossa, o desligamento de tudo que passou, os últimos pensamentos já amorosos e sexuais esmorecem nesses versos ‘você ainda pensa em mim quando você fode com ele?’. É hora de seguir, não há mais volta, pois só há o desejo que o outro fique bem (e longe, de preferência), são os desejos dos versos ‘você também vai encontrar um novo amor’.

Hooker finaliza o álbum com o frevo de “Desbunde Geral”. Após toda a dor que passou o ciclo termina, o Carnaval chega e há inúmeras possibilidades de felicidade. Não há tempo há perder com o passado, a esperança em novas possibilidades de felicidade é a mensagem final.

FAIXA INDICADA: “Amor Marginal”

ONDE OUVIR:


sábado, 26 de dezembro de 2015

Genesis

Não, não é sobre aquela banda.

É sobre o nascimento desse blog mesmo. Para falar um pouco sobre música, de qualquer canto, de qualquer ritmo.

Se você é um radical ortodoxo que só ouve determinado gênero, por favor, esse blog não é pra você.
Se você gosta de vários tipos de música mas o que te move é uma banda específica, talvez esse seja o seu lugar.
Se você gosta de música  e quer conhecer bandas novas, relembrar algumas joias ou se espantar em quanto estar velho por se lembrar da banda citada na primeira linha, esse SIM é o seu lugar.

E como começar um blog sobre música, senão com eles? Sim, eles! Você sabe de quem estou falando. Como presente de Natal, após um longo e tenebroso inverno, finalmente lançaram toda a discografia deles para streaming, em praticamente todos os serviços disponíveis.

Abaixo, uma coletânea ideal para você entrar no mundo da maior banda da história. E fugi dos lugares comuns, indicando um disco com gravações mais lado b. Espero que apreciem.

Como disse o apresentador Ed Sullivan em 23/02/1964, dando origem a toda a invasão britânica nos EUA, "ladies and gentlemen, here they are: The Beatles."