sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Analisando Huaska - Samba de Preto (2012)


Huaska


A combinação do metal com outros ritmos não é novidade, mas a forma como o Huaska está aproveitando essa mistura para construir sua carreira é muito interessante. Formada por Rafael Moromizato (voz), Alessandro Manso (violão/guitarra), Carlos Milhomem (guitarra), Caio Veloso (bateria) e Júlio Mucci (baixo), o quinteto tem tido forte notabilidade na cena underground nacional e no exterior, principalmente na Europa.

Após um EP (Mimosa Hostilis, 2002) e dois álbuns de estúdio (E Chá de Erva Doce, 2006) e (Bossa Nenhuma, 2009), é com o lançamento de Samba de Preto (2012) que a história da banda ficou realmente interessante. A influência da Bossa Nova e o samba presentes nas composições ganham força e participações mais que especiais, fazendo com que Huaska produza um som ímpar e intrigante.

Com arranjos de Eumir Deodato o álbum inicia com ‘Ainda Não Acabou’, que assim como a maioria das letras da banda nos apresenta o quadro de uma desilusão amorosa, o que muitas vezes sucumbe ao piegas, infelizmente. Segue com 'Foi-se', em que o peso da bateria e das guitarras casa muito bem com o violão entre uma pancadaria e outra.

A faixa que dá título ao álbum traz a participação de Elza Soares, e a inconfundível rouquidão de sua voz “samba” com a distorção das guitarras, sendo uma das músicas mais notórias da banda.

Rafael Moromizato e Elza Soares

Chega a ser desconfortável a pouca variação na temática das composições das letras. Não pelos assuntos tratados, mas pela forma como são tratados.‘Branco e Verde’ e ‘Otelo’ são composições dignas de um álbum de “sofrências sertanejas”, salvas pelas cordas e ritmos bem construídos.

A letra de ‘Gávea’ é a que mais distingue da temática tratado no álbum: é a narração de uma partida de futebol de várzea. Aqui a banda coloca mais um elemento nessa receita tão inusitada: futebol + metal + bossa. Corajosos!

‘Avoar’ é a reflexão sobre estar preso, apesar de toda liberdade que nos é apresentada e a escolha em seguir a vida conforme suas próprias vontades, sem esperar um alguém. O peso das guitarras dá uma trégua e a influência da Bossa nas faixas ‘O mar’ (também com arranjos de Deodato) e ‘Let’s Bossa’ torna-se mais evidente. 

Eumir Deodato

A cereja do bolo é a faixa final, com o padrinho Deodato ainda presente nos arranjos. ‘Chega de Saudade’, um dos clássicos da Bossa Nova ganha peso e divide opiniões. Uma releitura que soube seu lugar, respeitando a canção original e somando o peso do metal.

Huaska não é um som comum, é incômodo de ouvir em certos aspectos pelo excesso de letras que nos remetem ao gênero falido“emocore”. A forma como são construídas tem a linha de pensamento adolescente, o que não condiz com a seriedade musical apresentada nas melodias. Mas é indiscutível que a coragem dos músicos em unir dois gêneros tão distintos e com ouvintes tão fiéis é o que está tornando a banda um dos grandes expoentes da música brasileira no exterior. Independente de gostar desse ou aquele gênero ouvir Huaska é uma experiência que vale a pena.  


FAIXA INDICADA: “Samba de Preto”

ONDE OUVIR:

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