domingo, 3 de abril de 2016

António Zambujo e Miguel Araújo cantam "No Rancho Fundo" (ou: "Você devia ouvir mais música portuguesa")

Miguel Araújo e António Zambujo. Você reclama de música ruim porque não sabe pesquisar...


É fato: os brasileiros não gostam de música portuguesa.

Essa é a regra que, por ser uma regra, tem suas exceções. A música portuguesa é, até hoje, muito ligada ao fado, ao Roberto Legal e ao "Vira Vira" dos Mamonas Assassinas.

Poucos aqui do lado ocidental do Atlântico sabem mais sobre a música portuguesa, que vai desde o rock puro dos "Xutos & Pontapés" ao novo fado-pop de António Zambujo, Carminho e ao pop-romântico-anedótico de Miguel Araújo.

Os dois citados no título certamente são os maiores expoentes da nova música popular portuguesa. Levam milhares aos concertos e, juntos, produziram apresentações belíssima. Cabe ressaltar que os músicos portugueses conhecem muito melhor a nossa música que o inverso, já citado no começo do texto. Músicos da era de ouro da música nacional são idolatrados por lá, que aprendem acordes de Chico, Caetano, Tom e Vinícius desde cedo.

No vídeo abaixo um registro precioso da última turnê. Vale a pena.

terça-feira, 22 de março de 2016

Esse é Billy Joel. E esses são 3 motivos pra você conhecê-lo.



Billy Joel, um dos maiores cantores dos EUA e idolatrado também no Japão e na Europa, não é muito conhecido no Brasil.

O fato de apenas uma música sua ("Just The Way You Are", da obra-prima "The Stranger") ter feito parte de trilha sonora de novela nacional (três vezes, com três intérpretes diferentes, sendo que a versão de Billy foi usada somente em 1978) faz com que o público nacional tenha pouco contato com ele.

Mas não tema! Sua época de desconhecimento de Billy Joel acaba de ficar para trás.


1. O álbum "The Stranger"


Genialidade pura.


2. The Ballad of Billy The Kid, do álbum "The Nylon Curtain"


Uma música época, longa e com uma história fantástica. Tipo uma "Faroeste Caboclo" do Velho-Oeste.


3. "Just The Way You Are", do álbum "The Stranger"


Simplesmente a balada romântica definitiva. Que outra música tem uma letra com "Eu disse que te amo e isso é para sempre, / E isto eu prometo de coração. / Eu não poderia te amar mais / Eu te amo do jeito que você é..."




quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Primeiras Impressões // Leoni - Notícias de Mim (2015)


É preciso falar duas coisas sobre o mais recente disco do Leoni: a primeira é que ele foi todo feito em crowdfunding e a segunda é o quanto perdemos quando ele saiu do Kid Abelha.

A primeira é simples e demonstra pra onde caminha toda a indústria do entretenimento. Cada vez mais existem produções mais intimistas, personalíssimas, que dependem única e exclusivamente do desejo dos seus fãs. Evolução natural das mídias? Não, pura e simples necessidade, diminuição dos gastos das gravadoras e fim da era das vendas maciças de álbuns. Tiveram que se adaptar e esse foi o melhor caminho encontrado.

Já sobre a segunda há muito mais polêmica. Sempre que falo de Kid e Leoni um amigo diz que ele foi importante "mas nem tanto". Já eu afirmo que entre 80 e 90% das músicas de sucesso do Kid foram feitas por ele e que, mesmo com um álbum pós-Leoni muito bom e um acústico antológico, a banda foi se tornando um cover de si mesmo, presa a imensa superioridade do período em que o carioca ainda compunha a banda.

É fato que "Notícias de Mim" carrega tudo que Leoni trouxe do Kid, tudo que seus fãs esperam dele e tudo que ele poderia ter feito se ainda tivesse na banda. Há um certo prazer doloroso em ouvir o disco que, embora excelente, remeta a realidades que não se concretizaram.

Em músicas como a faixa-título, "Amor Real" (em parceria com Sérgio Britto) e "Pequeno Labirinto" (com Zélia Duncan), Leoni nos remete a um mundo ideal onde você ainda iria comprar o LP do Kid Abelha, em 2016, com ele e os outros na capa. O álbum é, por si, uma vitória dos fãs e do próprio Leoni. Como esquecer do seu brilhantismo ao escrever com versos como estes, em "Nos Olhos Dela"?

Da porta da cozinha ela falou:
"Seus olhos não me enganam, você sabe."
Olhei pro chão por falta de coragem
Nos olhos dela a música acabou
Eu disse: "não foi nada". Ela chorou
Abismo entre palavra e pensamento
Às vezes um segundo é muito tempo nos olhos dela a música acabou
Leoni conseguiu algo realmente notável: materializar uma realidade alternativa e nos dizer "tá tudo bem".



domingo, 31 de janeiro de 2016

Primeiras Impressões // Tiê - Esmeraldas (2014)


Há uma tendência natural em achar que o passado foi melhor do que o presente que vivemos. "Ah os anos 70...", "bom mesmo era o tempo da Jovem Guarda" e "o rock dos anos 80 foi imbatível" são frases frequentes (e cansativas) de quem ouve música, especialmente brasileira. Há uma duvidosa corrente, inclusive, que diz que a MPB morreu e que não se faz nada de bom.

Erro grosseiro e quase atestado de desconhecimento. A "nova" MPB é composta de artistas tão bons quanto a maioria dos artistas da "velha" MPB, descontando-se os gênios atemporais. Nomes como Cícero, Ana Cañas, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci e Tiê, entre outros, mostram o quão oxigenada e viva está a música no Brasil. Mais moderna e menos apegada ao combate ideológico, a música desse pessoal evoluiu, incorporou sons diversos, do rock londrino aos instrumentos indígenas, cada um à sua maneira, sem perder a origem.

Tiê, que tem seu disco apresentado aqui, é provavelmente a forma mais fácil de se entrar nesse mundo. O disco "Esmeraldas" (2014) é fácil de ser ouvido de uma vez só. Faixas com arranjos simples, uso frequente de back-vocal e a doce voz da cantora tornam a audição muito agradável. As letras, contidas em si mesmas e sem pertencer à nenhum "plano superior", adoçam por completo a receita. Destacam-se a novelizada "A Noite" (que recentemente ganhou dois remixes, inferiores, de maneira oficial), "Máquina de Lavar" (parceria com o genial e depreciado Guilherme Arantes) e "Par de Ases".





quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Primeiras Impressões // Jéf - Leve (2014)

Leve (2014)

Um sonhador. Essa é uma das definições que o próprio Jéferson de Souza atribui à si mesmo na contra capa do álbum Leve, lançado em 2014. É também como suas músicas podem nos fazer sentir.

O álbum traz composições introspectivas que me remeteu imediatamente à sensação de paz e reflexão. Acredito que esse era um dos objetivos do artista com seu público ao realizar um trabalho tão sincero e maduro.

Apesar de ser o primeiro álbum de sua promissora carreira musical, Jéf já demonstra conhecer os caminhos para realizar uma das missões mais importantes de uma boa canção: nos transpor para uma realidade em que possamos encontrar respostas para questões subjetivas e preocupações rotineiras.

Jéf

Uma das faixas mais marcantes é, sem dúvida, 'Com Você', transcrita abaixo. Uma música sobre saudade e esperança, com intensas marcações sentimentais. Canção para homenagear sua mãe, já falecida.

"Fiz o meu melhor
Segui seus passos
Só que mesmo assim
Eu tive medo de não te alcançar
Por esses vastos caminhos que eu andei
Sempre ao teu lado
Somos um caminho só
Somos um caminho só

E eu vou com você pela escuridão
Eu vou com você pela escuridão

Quis não me perder
Soltar tua mão
E me sentir tão só
Vivendo um sonho
Sigo a tua luz
Por esse longo caminho que me traz
Sempre aos teus braços
Somos um caminho só
Somos um caminho só

E eu vou com você pela escuridão
Eu vou com você pela escuridão

Torço pro Sol se pôr
Espero você chegar
Mas acho que talvez
Você não vá voltar
Quero que saiba então
Que eu sempre vou estar
Em cada passo que você for dar" 


As composições de Jéf são leves, simples e ainda sim de uma profundidade interpretativa absurda. Em 2015 foi o vencedor do programa Breakout Brasil, produzido pela Sony. Lançou no ano seguinte o álbum Interior, com produção de Lucas Silveira.

FAIXAS INDICADAS: "Com Você", "Leve" e "Quando Você Voltar"

ONDE OUVIR:


sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Analisando Huaska - Samba de Preto (2012)


Huaska


A combinação do metal com outros ritmos não é novidade, mas a forma como o Huaska está aproveitando essa mistura para construir sua carreira é muito interessante. Formada por Rafael Moromizato (voz), Alessandro Manso (violão/guitarra), Carlos Milhomem (guitarra), Caio Veloso (bateria) e Júlio Mucci (baixo), o quinteto tem tido forte notabilidade na cena underground nacional e no exterior, principalmente na Europa.

Após um EP (Mimosa Hostilis, 2002) e dois álbuns de estúdio (E Chá de Erva Doce, 2006) e (Bossa Nenhuma, 2009), é com o lançamento de Samba de Preto (2012) que a história da banda ficou realmente interessante. A influência da Bossa Nova e o samba presentes nas composições ganham força e participações mais que especiais, fazendo com que Huaska produza um som ímpar e intrigante.

Com arranjos de Eumir Deodato o álbum inicia com ‘Ainda Não Acabou’, que assim como a maioria das letras da banda nos apresenta o quadro de uma desilusão amorosa, o que muitas vezes sucumbe ao piegas, infelizmente. Segue com 'Foi-se', em que o peso da bateria e das guitarras casa muito bem com o violão entre uma pancadaria e outra.

A faixa que dá título ao álbum traz a participação de Elza Soares, e a inconfundível rouquidão de sua voz “samba” com a distorção das guitarras, sendo uma das músicas mais notórias da banda.

Rafael Moromizato e Elza Soares

Chega a ser desconfortável a pouca variação na temática das composições das letras. Não pelos assuntos tratados, mas pela forma como são tratados.‘Branco e Verde’ e ‘Otelo’ são composições dignas de um álbum de “sofrências sertanejas”, salvas pelas cordas e ritmos bem construídos.

A letra de ‘Gávea’ é a que mais distingue da temática tratado no álbum: é a narração de uma partida de futebol de várzea. Aqui a banda coloca mais um elemento nessa receita tão inusitada: futebol + metal + bossa. Corajosos!

‘Avoar’ é a reflexão sobre estar preso, apesar de toda liberdade que nos é apresentada e a escolha em seguir a vida conforme suas próprias vontades, sem esperar um alguém. O peso das guitarras dá uma trégua e a influência da Bossa nas faixas ‘O mar’ (também com arranjos de Deodato) e ‘Let’s Bossa’ torna-se mais evidente. 

Eumir Deodato

A cereja do bolo é a faixa final, com o padrinho Deodato ainda presente nos arranjos. ‘Chega de Saudade’, um dos clássicos da Bossa Nova ganha peso e divide opiniões. Uma releitura que soube seu lugar, respeitando a canção original e somando o peso do metal.

Huaska não é um som comum, é incômodo de ouvir em certos aspectos pelo excesso de letras que nos remetem ao gênero falido“emocore”. A forma como são construídas tem a linha de pensamento adolescente, o que não condiz com a seriedade musical apresentada nas melodias. Mas é indiscutível que a coragem dos músicos em unir dois gêneros tão distintos e com ouvintes tão fiéis é o que está tornando a banda um dos grandes expoentes da música brasileira no exterior. Independente de gostar desse ou aquele gênero ouvir Huaska é uma experiência que vale a pena.  


FAIXA INDICADA: “Samba de Preto”

ONDE OUVIR:

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

ZAZ e Stromae: a música francófona moderna



Ela é francesa, nascida Isabella, tem quase 15 anos de carreira e fez um sucesso avassalador nos países que falam francês, antes de exportar sua música.
Ele é belga, nascido Paul, tem quase 11 anos de carreira e fez um sucesso avassalador nos países que falam francês, antes de exportar sua música.

Se fosse pedido para dar uma cara para a música francesa sem dúvida eles seriam as figuras ideais para estampar o verbete. 

Originalmente uma cantora de jazz, Zaz hoje flutua entre o pop, jazz e a chanson (um ritmo musical tipicamente francês cujos expoentes mais conhecidos no Brasil são Edith Piaf e Jacques Brel). Seu primeiro disco, homônimo, conseguiu diversas certificações nos países francófonos o que, alguns anos depois, catapultou sua fama em outros países. Já fez alguns shows no Brasil, inclusive um gratuito no Parque do Ibirapuera em São Paulo.

Sua canção mais famosa é o hino ao desprendimento e a vida simples "Je Veux". Um pop ritmado com batidas rápidas, é uma música que não permite respiração: tudo é muito propositivo, rápido. É como a vida: tudo precisa ser pra hoje, pra já.


Já o belga Stromae pode ser considerado um camaleão. Performático, iniciou a carreira como o rapper Opsmaestro antes de assumir a identidade mais famosa. Sua batida eletrônica moderna aliada as suas letras fortes dá ao seu trabalho a cara de um rap que você não pode resistir.

Suas letras falam, em sua maioria de perda, vida, morte mas também de amor entremeado nesses outros sentimentos. Uma de suas músicas, Ta Fête, foi escolhida como música-tema da seleção belga de futebol para a Copa do Mundo de 7x1.

A mais conhecida de suas composições é a exaustivamente remixada por DJs "Alors on Danse". Por curiosidade, uma música com a mesma vibe de "Je Veux", dando um dane-se pro mundo e, simplesmente, decidindo que agora é hora de dançar, em meio a catástrofe que chamamos de vida.


Seria coincidência que os dois maiores sucessos de dois dos mais bem sucedidos cantores francófonos da última década sejam hits upbeat positivistas? Eu acho que não.

Abaixo listo cinco músicas de cada artista para conhecerem um pouco do trabalho deles.